quinta-feira, 27 de março de 2014

Prolegômenos - Crônicas do Novo Mundo

50 Anos Depois

"Então, Deus irá criar um novo céu e uma nova terra."
                                                                                Apocalipse 21:1

"A neve e a tempestade destroem as flores, mas nada podem contra a semente."
                                                                                                                  Khalil Gibran



     Pequenos núcleos relativamente próximos uns dos outros, permeiam a parte mais setentrional do globo terrestre. Assim como Moisés conduziu seu rebanho por mais de quarenta anos no deserto em busca de sua 'terra prometida', também assim peregrinam os herdeiros da 'nova humanidade, em busca de sua 'Canaã'.
Todavia, à semelhança dos hebreus errantes do Velho Testamento, milhares ficariam pelo caminho, fundando povoados e pequeninas vilas, ou simplesmente se entregando aos doces e herméticos braços da encantadora e maligna Libitina*.
    O gelo, uma realidade em mais de 80% do planeta, ali parece ter encontrado os seus limites; embora as temperaturas naquele local ainda permaneçam abaixo de zero, a sobrevivência nestas plagas se tornaram muito menos insalubres. O céu já não apresentava o seu característico manto cinzento - situação comum na maior parte do ano - e, de quando em quando, pedacinhos de um azul tímido surgem por entre estas espessas nuvens. As torrenciais e causticantes pancadas de chuva ácida, que castigava os retirantes, também ficaram para trás a pelo menos vinte anos.
     Aqui e ali, nestes diminutos povoados, vez ou outra o pesado silêncio é quebrado pelo vagido de mais um ser humano que chega à este insólito planeta. É a vida que se perpetua contrariando todas as expectativas em contrário. 
      Homens e mulheres, aos farrapos, se aquecem ao lado de fogueiras acesas a base de muito sacrifício e perseverança; alguns tem a oportunidade ímpar de se cobrirem de peles dos raríssimos animais encontrados sobre o gelo nas planícies daquilo que algum dia foi a prepotente Rússia. 
      O passado primitivo do ser humano está de volta; e de volta com ele todas as dificuldades e privações próprias do período onde o ser humano ainda não dispunha de tecnologias que lhe proporcionasse uma melhor condição de vida. Todavia, o conhecimento, o saber científico-tecnológico angariado no decorrer de milênios de experiências empíricas, dormitam no inconsciente coletivo dos homens, tornando-se um aliado indispensável para sua mais fantástica empreitada: a da sobrevivência!

*Na mitologia romana, Libitina era a deusa da morte, dos cadáveres e dos funerais.




quarta-feira, 26 de março de 2014

Prolegômenos - Crônicas Sobre o Apocalipse III

Ano V do Apocalipse 

"O Senhor disse a Abrão: Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que Eu te mostrar."
                                                                                                                                                                                         Gênesis 12:1


Ano cinco após a Grande Hecatombe.

     O ambiente, ainda inóspito e perseverantemente hostil, incita aos sobreviventes da última Grande Guerra a uma incansável e obstinada marcha ao norte. Tal qual os norte-americanos nos primórdios de sua colonização buscavam o "El Dorado", em sua jornada rumo ao desconhecido e promissor Oeste, agora o que sobrou de nossa triste e exasperada humanidade, peregrina instintivamente, como os animais, rumo a parte mais setentrional do planeta, transformada na área mais propícia a preservação e manutenção das espécies


     Com a inclinação do eixo da terra como resultado das inúmeras ogivas nucleares deflagradas em todos os seus cantos, além dos fenômenos "naturais" oriundos após estes massivos bombardeios - como tsunamis gigantescos, maremotos avassaladores, terremotos intermitentes e até a eclosão de novos  vulcões, além do renascimento daqueles já considerados extintos - o Polo Norte, bem como a inóspita Sibéria dos antigos Czares e dos implacáveis"Tovariches", anteriormente pouco recomendáveis para o abrigo do ser humano, tornaram-se as regiões mais adequadas a sua sobrevivência.
     De volta a selvageria, a humanidade, neste momento, retorna a sua fase ancestral de priscas eras de coleta de alimentos; com a diferença agora que sua comida não está mais disponível na copada das árvores, como se apresentavam a seus antepassados hominídeos; mas ao contrário, eles tem de buscá-la em todos os lugares, principalmente no chão enegrecido pela lama e batido pelos pés dos retirantes esfomeados.


      São muitos os percalços ao longo do caminho - além do frio, da fome, da sede, das doenças e das  hordas de salteadores, alguns animais outrora domésticos, que conseguiram sobreviver neste inferno, atacam em bandos semisselvagens, aos mais fracos deste bizarro comboio: velhos, crianças, inválidos, doentes, e todos aqueles que ficam para trás, dilacerando e devorando tudo o que encontram.
     São milhares de quilômetros percorridos instintiva e coletivamente pelos "mortos-vivos", colocando à prova sua obstinação e tenacidade frente aos maiores desafios de suas vidas. Em todos os pontos do orbe terrestre, pequenos grupos de homens se arrastam miseravelmente para o norte em busca de sua redenção, enquanto uma Nova Era Glacial rapidamente se avizinha. Novamente então temos uma "Seleção Natural" entre os seres vivos, onde somente as espécies (ou os homens) mais aptos, sobreviverão!


Prolegômenos - Crônicas Sobre o Apocalipse II

"E que a partir do momento presente, em que escrevo essas coisas, antes de cento e setenta e sete anos, três meses e onze dias, por pestes, por fome prolongada e por guerras, e mais pelas inundações do mundo entre agora e o tempo prefixado, antes e depois, , por várias vezes, será tão diminuído e a população restará tão pouca que não se encontrará quem lavre a terra  que assim ficará estéril por tanto tempo quanto durou antes a sua exploração útil."

M. Nostradamus em, ad Coesarum Nostradamum Filium - À César Nostradamus, meu filho


Mês VI - Desolação!



"Chassez le naturel, il revient au galop"*
(Destiuches)


     Os seis primeiros meses após a tragédia planetária foram bastante duros para os poucos sobreviventes do orbe terrestre. O que restou daquilo que um dia fora chamada de "Humanidade", se arrastava aqui e ali, claudicante, buscando desesperadamente meios para continuarem sua miserável existência. A busca por água, e principalmente por alimentos, era a principal atividades destes párias humanos.
      Nos grandes centros, os poucos supermercados que não foram dizimados pela imbecilidade do ser humano, foram instantaneamente saqueados pela turba esfaimada; uma multidão de homens e mulheres, tal como "mortos-vivos", aos bandos, destruíam, pilhavam e comiam tudo em questão de minutos! Raramente crianças e velhos, doentes e aleijados obtinham algum quinhão deste festim diabólico. Nos campos, nas áreas rurais e comunidades agrícolas, a situação também eram deveras desesperadoras! As lavouras que não foram incineradas pelas inúmeras ogivas nucleares, ou envenenadas pelas mais atrozes armas químicas, simplesmente foram queimadas pela truculenta e atoleimada soldadesca de aliados e rivais, que desta forma, evitavam o abastecimento das tropas contrárias - como se os próprios não estivessem também sujeitos à inexorável necessidade da alimentação! As criações de animais para o abate já não existiam a alguns meses; e os animais domésticos e mesmo aqueles  denominados como nocivos à saúde pública, ou morreram com o rigor das bombas ou pereceram ante a fome dos homens. 


          Assim, após a imolação das guerras e das pestes, a fome foi a principal aliada de Caronte no extermínio dos menos afortunados e sua condução ao Hades! E o cenário que se apresentava nos proscênios da Terra eram os mais soturnos possíveis; o planeta, se convertendo rapidamente numa imensa Sibéria, com temperaturas cada vez menores, abaixo de um céu sempre cinzento e ameaçador das cúmulos-nimbos, não davam a menor indicação de que o sol, triunfante, resplandeceria novamente no firmamento.
       E aos homens, atônitos e descrentes, bestializados, outro recurso não tinham, além de lutar pela sobrevivência neste ambiente inóspito e orar aos seus antigos e preteridos deuses, afim de esperarem por dias melhores...
   


*Expulsai a natureza, ela volta a galope.

Prolegômenos - Crônicas Sobre o Apocalipse

“A este mundo, antes da conflagração universal advirão tantos dilúvios e tão grandes inundações, que mal haverá alguma porção de terra que não ficará coberta pelas águas, e isso será por tão longo tempo, que com exceção das etnografias e topografias, tudo o mais perecerá.
Também, antes e depois dessas inundações, em várias regiões as chuvas serão tão poucas, e cairá do céu tão grande abundância de fogo e de pedras candentes, que não ficará nada que não seja consumido. Tais coisas acontecerão um pouco antes da última conflagração”. 
Michel de Nostradamus

"Virá, entretanto, como o ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas."
2 Pedro 3:10



CAOS!
   

Terra – ano 2.227 A.D.


   Por semanas, após infrutíferas negociações dos principais países do orbe terrestre, finalmente o ódio, a intolerância, o preconceito e a ambição vencem, e tem início a maior das hecatombes planetárias do universo.

Capitaneados por uma política excludente e mesquinha, os blocos 
geopolíticos das nações de todos os pontos do mundo, propugnavam por seu inexorável direito a submissão, expropriação e escravização de seus vizinhos humanos.
    Cegos pelo orgulho e pela vaidade preferiram então medir forças em detrimento da paz e do bem estar da humanidade; e o que veio a seguir, foi a falência dos seres humanos enquanto animais supostamente  racionais e dotados de alguma sensibilidade.
    Quarenta e seis dias! Foi o tempo que restou às sociedades humanas! “Vae soli, vae victis!” – Ai dos solitários, ai dos vencidos! Milhões e milhões de seres humanos tombaram por todos os continentes; homens, mulheres, crianças e velhos; os poucos animais que ainda existiam; as raras florestas e bosques – naturais ou não; tudo o que fosse vivo, sucumbia ante as novas tecnologias de destruição em massa.

E por fim, o ato final – Acta est fabula, “a peça terminou”! No quadragésimo sexto dia, o golpe de misericórdia! Ogivas atômicas, bombas de hidrogênio e termonucleares singraram os céus de norte a sul, de leste a oeste atingindo todo o planeta.



     Prédios inteiros ruíam como castelos de cartas ou peças de dominó; vidros estilhaçavam em milhares de cacos formando prismas multicoloridos e mortais; estruturas de ferro e aço incandescentes derretiam como manteiga ante os potentíssimos projéteis. O som era aterrador! Além das explosões homéricas, provocando visões dantescas, não imaginadas nem pelo poeta florentino, o silvo dos mísseis e ogivas nucleares lembravam o canto das sereias mitológicas, prontas a levar os homens para a perdição!

E no meio deste caos, os homens se desintegravam ante o calor incomensurável das bombas termonucleares; os que não capitulavam diante de tal revés, morriam estraçalhados ou esmagados pela força devastadora das outras armas de extermínio – “Ali haverá choro e ranger de dentes!”.
    E então, quarenta e seis dias após o início da peleja global, o que se via era tão somente pedras, poeira e ferros retorcidos; casualmente, aqui ou acolá, uma estrutura em frangalhos, que resistira aos ataques. O céu, outrora azul e límpido, agora se mostra cinza e pesado, como se vivesse sempre o ocaso; após as últimas bombas, os sons que animam o planeta são somente de sirenes insistentes e vãs, pequenas explosões em locais isolados e o farfalhar da chuva fina e ácida que castiga algum eventual ser vivo que tenha ousado sobreviver a esta tragédia!

     Devido às espessas nuvens que obstrui a passagem salutar dos raios solares, o clima resfria-se drasticamente e em poucos dias grossa camada de neve acumula-se no solo estéril e carbonizado  do planeta. Não se pode ver mais nada verde, vermelho ou amarelo sobre a superfície terrestre; aliás, não se pode ver mais nada que não seja negro ou cinza. O antigo “Planeta Azul” de Gagarin, agora parece ser somente uma fotografia antiga e cinzenta de um velho e decadente cemitério!




segunda-feira, 24 de março de 2014

Prefácio

  "E os sete anjos, que tinham as sete trombetas, prepararam-se para tocá-las. E o primeiro anjo tocou a sua trombeta, e houve saraiva e fogo misturado com sangue, e foram lançados na terra, que foi queimada na sua terça parte; queimou-se a terça parte das árvores, e toda a erva verde foi queimada. E o segundo anjo tocou a trombeta; e foi lançada no mar uma coisa como um grande monte ardente em fogo, e tornou-se sangue a terça parte do mar. E morreu a terça parte das criaturas que tinham vida no mar; e perdeu-se a terça parte das naus. E o terceiro anjo tocou sua trombeta, e caiu do céu uma grande estrela ardendo como uma tocha, e caiu sobre a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas."

Apocalipse 8:6-10