50 Anos Depois
"Então, Deus irá criar um novo céu e uma nova terra."
Apocalipse 21:1
"A neve e a tempestade destroem as flores, mas nada podem contra a semente."
Khalil Gibran
Pequenos núcleos relativamente próximos uns dos outros, permeiam a parte mais setentrional do globo terrestre. Assim como Moisés conduziu seu rebanho por mais de quarenta anos no deserto em busca de sua 'terra prometida', também assim peregrinam os herdeiros da 'nova humanidade, em busca de sua 'Canaã'.
Todavia, à semelhança dos hebreus errantes do Velho Testamento, milhares ficariam pelo caminho, fundando povoados e pequeninas vilas, ou simplesmente se entregando aos doces e herméticos braços da encantadora e maligna Libitina*.
O gelo, uma realidade em mais de 80% do planeta, ali parece ter encontrado os seus limites; embora as temperaturas naquele local ainda permaneçam abaixo de zero, a sobrevivência nestas plagas se tornaram muito menos insalubres. O céu já não apresentava o seu característico manto cinzento - situação comum na maior parte do ano - e, de quando em quando, pedacinhos de um azul tímido surgem por entre estas espessas nuvens. As torrenciais e causticantes pancadas de chuva ácida, que castigava os retirantes, também ficaram para trás a pelo menos vinte anos.
Aqui e ali, nestes diminutos povoados, vez ou outra o pesado silêncio é quebrado pelo vagido de mais um ser humano que chega à este insólito planeta. É a vida que se perpetua contrariando todas as expectativas em contrário.
Homens e mulheres, aos farrapos, se aquecem ao lado de fogueiras acesas a base de muito sacrifício e perseverança; alguns tem a oportunidade ímpar de se cobrirem de peles dos raríssimos animais encontrados sobre o gelo nas planícies daquilo que algum dia foi a prepotente Rússia.
O passado primitivo do ser humano está de volta; e de volta com ele todas as dificuldades e privações próprias do período onde o ser humano ainda não dispunha de tecnologias que lhe proporcionasse uma melhor condição de vida. Todavia, o conhecimento, o saber científico-tecnológico angariado no decorrer de milênios de experiências empíricas, dormitam no inconsciente coletivo dos homens, tornando-se um aliado indispensável para sua mais fantástica empreitada: a da sobrevivência!
*Na mitologia romana, Libitina era a deusa da morte, dos cadáveres e dos funerais.
*Na mitologia romana, Libitina era a deusa da morte, dos cadáveres e dos funerais.